A teoria realista do cinema
A teoria realista do cinema está intensamente
ligada ao senso da função social da arte. Um cinema com uma consciência verdadeira, tanto para a nossa percepção cotidiana
da vida, como para a nossa situação social. Na teoria do filme documentário, os laços entre uma estética do percepção e uma
ética preocupada com o social, existem até hoje. O cinema existe para nos fazer ver o mundo tal como ele é, e para nos permitir,
descobrir sua textura visual e para fazer com que possamos entender o lugar nele ocupado pelo homem. “O cineasta tem
dois objetos em mente: a realidade e o registro cinemático da realidade. Tem
dois objetivos: o registro da realidade através das propriedades básicas de seu instrumento e a revelação dessa realidade
através do uso de todas as propriedades disponíveis do veículo” (Teoria realista do cinema, Siegfried Kracauer,
p. 120).
Intenção realista é intenção “real”.
Como achava Bazin o cinema depende primeiro de uma realidade visual e especial, o mundo real físico. O cinema realista tem
como o tema o homem. Tem contexto social, cultural. Homem e o mundo dele. Como base usa visibilidade. “O cinema
é antes de tudo a arte do real porque registra a especialidade dos objetos e o espaço por eles ocupado” (Teoria
realista do cinema, André Bazin, p. 142).
O
filme “Eles não usam black-tie” de Leon Hirszman adaptado da peça do teatro de Gianfrancesco Guarnieri, é um exemplo
de cinema realista. Um retrato vivo e comovente do Brasil os anos oitenta. Em clima de grande emoção e dramaticidade, duas
famílias operários vivem intensamente as contradições, as violências e as dificuldades de São Paulo. É um filme de ficção.
A ficção ajuda retratar a realidade. É um exemplo como fazer o documentário e a partir deste documentário fazer ficção. Um documentário que se acaba sendo uma ficção.
Existe “enredo encontrado”, o gênero cinemático definido pelo Kracauer: “o filme de enredo é a base estética”.
O
filme mostra um problema pessoal, um conflito de assunto, o que está acontecendo. A história se apresente trazendo o que o
documentário traz – a vida pessoal. Mas também mostra os pensamentos, romantismo,
planejamentos que o documentário não traz. O filme, cenário de um bairro proletário, começa-se de conflito de uma jovem casal-
a gravidez da namorada, isso é um trama, outro que está desenvolvido paralelo é trama de uma greve. A coisa da classe operária,
com suas dificuldades e problemas das pessoas com um contexto cultural.
A história nasceu num local e de uma
cultura. “O trama deve vir da própria realidade dos indivíduos, que existem para revelar os dimensões humanas de uma
situação mais profunda, ampla e objetiva”- como achava Kracauer.
O filme começa com o drama individual do casal, este drama está evoluindo em um contexto social (assim a teoria realista
presta a estrutura narrativa). A história é bem contextuada com o contexto cultural.
O filme mistura também realidade com teatro, elementos de drama
com adaptação literária. Possui-se de vários elementos- filme teatral, que torna-se
um substituto de realidade, adaptação literária. O filho fala com o pai sobre as preocupações e alguma pessoa ou coisa imprevista
entra como uma estrutura teatral – para dramatizar. Pai fala sobre as dificuldades de classe operária- para dramatizar.
Este filme é um drama familiar. Traz contexto social. Ao aproximar-se ao drama familiar do contexto, tem violência, greve,
alcoolismo. Tudo é um universo. Construção cênica é bem próxima do documentário. “O cenário não deve ser estilizado,
simbólico, fantástico, é sim neutro, para mostrar a realidade. Deve contextuar a tema, dar visibilidade ao homem ao tema”-
escreveu Bazin.
O filme é uma peça teatral, um drama
naturalista, adaptada para cinema. O estilo realista da estrutura narrativa organizou
a história. O diretor do filme colocou personagem da peça em uma realidade social. O filme é um fluxo da vida. Traz outras
formas quais a peça teatral não traz. Tem uma fonte inspiradora de um filme documentário.
Mise em scene, local da filmagem, esta
construção do cenário em vários ambientes (casa, bar, fábrica, rua) é bastante real. Construção é para reforçar ambiente (pode
ser alegórica, simbólica, realista), aqui é realista. Refeitório, objetos (sopa, feijão, etc.) são realistas. E figurinos- personagens não são simbólicas, são naturais.
Música é acidental, surge de ambiente
(bar). Funciona como fidelidade de fonte. Aparece também em momentos importantes para a personagens da história e para aumentar
a dramatização.
Montagem, colagem das fotos, é muito
narrativa. A história é linear, uma progressão, uma situação que se desenvolvi. O tempo está evoluindo. Os problemas geram
a dinâmica da situação inicial e vão evoluir. Montagem é linear e corrente. Tem duas coisas: drama individual e contexto social,
duas estão evoluindo e estão entrelaçados, misturados tempo todo além de são linear.
Fotografia, concepção de imagem (ambiente,
roupas, coisas) são realistas. Luz, iluminação que revela o espaço da cena também é realista.
Tipo de planos - distante ou próximo, subjetivo - objetivo. Não é montagem muito
rápida. O ritmo da montagem é bem lento. Pouco –close-, pouco detalhe. Tem mais coisas para ver, plano mais longo. Tipo
de “decupagem” interfere pouco na ação. O plano deve ser longo, a montagem deve dar o tempo do plano, O ritmo
da montagem deve ser ao ritmo inteiro do plano, não obedecer, causar, tornar a influência e assim manter a realidade –
disse a teoria realista do cinema.
O cineasta (diretor, autor, alguém) observou a realidade, aquele contexto e ficou fora dele. Ele observou e descobriu a realidade, mas não criou (criou só no sentido
social). Esta história dramática aprofundou a vida real. Dramaturgia deu profundidade daquele tema. Teoria realista é uma
analise que quer aprofundar a realidade. De intenção é que filme esta dentro (documentário, “ABC da greve” de
Leon Hirszman) da vida cotidiana, as pessoas vestem se mesmo jeito, vivem nas mesmas situações, trabalham na mesma fábrica.
Filme ficção “Eles não usam black-tie” de Leon Hirszman, deu mais
questão humana.
Copyright /Agnieszka Balut/10.06.2005
|